MAIS OUTRO QUE QUALQUER OUTRO

 

 

2023

 

De 28 de setembro a 19 de novembro, na Galeria de Arte BDMG Cultural.

 

Rua Bernardo Guimarães, 1600 – Lourdes | Belo Horizonte, MG - Brasil

 

 

BDMG Cultural

 

2023

 

 

Iago Gouvêa é o artista que encerra o ciclo de exposições selecionadas para este ano.  Vânia Barbosa, Yanaki Herrera e Priscila Rezende, também passaram pela Galeria de Arte em uma sequência de exposições que trouxeram importantes questionamentos contemporâneos. A relação da cidade com a atividade extrativa da mineração, presente no trabalho de Vânia Barbosa, a relação por vezes contraditória entre o ser mãe e ser mulher, de Yanaki Herrera, o funeral/ritual/celebração necessário de Priscila Rezende e, Iago traz as inquietações e fronteiras das relações entre humanos e animais.

 

Iago utiliza-se da linguagem artística para trazer uma reflexão profunda sobre os limites do ser humano, sobre a natureza e o industrial. Seu conjunto de obras nos faz repensar a relação do homem com outros seres e propõe uma conexão com todos os habitantes do planeta.

 

A exposição Mais outro que qualquer outro mostra o respeito e atenção do artista visual por todos os seres viventes; nela Iago apresenta seu olhar para a relação interespécies, além da problematização de exploração deste convívio, e revela que do cimento, da ferrugem, do piche e dos vergalhões pode surgir a vida espontânea e sem permissões.

 

Mais outro que qualquer outro é a última exposição do Ciclo de Mostras 2023, cujos projetos foram selecionados por uma comissão independente no final de 2022. As mostras nos possibilitaram apreender  um pouco das diversas vozes e produções de Minas Gerais. Se encerra um ciclo, mas muitos outros virão.

 

 

 

 

Texto Curatorial

 

por Pablo Pires

 

 

Qual a diferença entre um ser humano e um bicho? A racionalidade, que nos distingue, nos torna menos animal? O debate sobre os limites do ser humano e sua relação com outras criaturas tem se intensificado nas últimas décadas nas áreas mais distintas da ciência e da filosofia, mas remonta à Antiguidade ou Montaigne (1533-1592).

 

A curiosidade e inquietude de Iago Gouvêa são perceptíveis ao explorar um campo controverso e apresentar soluções formais inusitadas, o que lhe confere uma singularidade na produção contemporânea.

 

Sua pesquisa no campo escultórico explora diferentes materiais. Embora suas obras tragam abordagens distintas sobre a animalidade, a problematização da exploração de animais pelo homem percorre todos os seus trabalhos.

 

Na exposição Mais outro que qualquer outro, Iago Gouvêa mostra três conjuntos de trabalhos: A série In vitro, instalada em um ambiente asséptico de laboratório. Aqui, a utilização de ratos como cobaias de pesquisas científicas é levada ao extremo. São esculturas em cerâmica, nas quais deformidades provocam estranhamento para despertar uma reflexão sobre os limites da ciência.

 

A escultura de um macaco subverte a tradição europeia de animais de porcelana, em que tais objetos conferiam status de bom gosto, para criticar valores a sociedade de consumo e cientificista.

 

O segundo ambiente expositivo é dedicado aos animais que habitam as cidades evidenciando a aspereza da vida de aves e mamíferos ao ambiente urbano. As esculturas e pinturas, sobretudo os materiais empregados – cimento, vigas de aço, ferrugem, piche e cacos de vidro – se apropriam das falhas construtivas e expõem as cicatrizes citadinas. Retomam o tema científico e industrial da reprodução em massa e criam contraste entre a natureza e o industrial.

 

Para encerrar a exposição, um painel de esculturas de cerâmica composto de 30 peças de parede. São animais antropomorfizados, que remetem às coleções de registros de cientistas realizadas em expedições pelo Brasil. Compõem, paradoxalmente, uma arqueologia futurística, na qual se fundem homens e animais e sugerem um outro tipo de relação entre ambos e, talvez, o fim dessa dicotomia que nos separa.

 

 

 

 

 

 

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Fotografias: Dynelle Coelho